O Centro de Estudos de Psicanálise e Filosofia - CEPSI é um projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará que visa promover o diálogo entre filosofia e psicanálise. Surgiu em 2007, a partir da iniciativa de estudantes e professores interessados em ambas as áreas, contando com o apoio do curso de filosofia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UEVA) e do curso de psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Campus Sobral.

Atualmente, o CEPSI conta com o Grupo de Interlocução, o CINEFILOS, a Liga de Psicanálise e Psicopatologia e a Liga de Psicologia Hospitalar de Sobral; além de funcionar como centro articulador entre os monitores das áreas de psicanálise e filosofia, os estagiários em psicanálise, os estudantes interessados em aprender mais sobre a Teoria Psicanalítica e os interessados em cinema e filosofia. Navegue pelas páginas de nosso blog para saber mais.

5 de agosto de 2010

Lacan, o "Liberatore" da Psicanálise


Michel Foucault (1981)

"Lacan, il 'libertatore' della psicanalisi" ("Lacan, o libertador da psicanálise"; entrevista com J. Nobécourt; trad. A. Ghizzardi), Corriere della sera, vol. 106, nº 212, 11 de setembro de 1981, p. 1.


- Tem-se o hábito de dizer que Lacan foi o protagonista de uma "revolução da psicanálise". O senhor acha que esta definição de "revolucionário" é exata e aceitável?

- Acho que Lacan teria recusado este termo "revolucionário" e a própria idéia de uma "revolução em psicanálise". Ele queria apenas ser "psicanalista". Isso supunha, aos seus olhos, uma ruptura com tudo o que tendia a fazer depender a psicanálise da psiquiatria, ou a fazer dela um capítulo sofisticado da psicologia. Ele queria subtrair a psicanálise da proximidade da medicina e das instituições médicas, que considerava perigosa. Ele buscava na psicanálise, não um processo de normalização dos comportamentos, mas uma aparência de discurso extremamente especulativo, seu pensamento não é estranho a todos os esforços que forma feitos para recolocar em questão as práticas da medicina mental.


- Se Lacan, como o senhor disse, não foi um "revolucionário", é certo, contudo, que suas obras tiveram uma grande influência sobre a cultura nos últimos decênios. O que mudou depois de Lacan, também, no modo de "fazer" cultura?

- O que mudou? Se remonto aos anos 50, na época em que o estudante que eu era lia as obras de Lévi-Strauss e os primeiros textos de Lacan, parece-me que a novidade era a seguinte: nós descobríamos que a filosofia e as ciências humanas viviam sobre uma concepção muito tradicional do sujeito humano, e que não bastava dizer, ora com uns, que o sujeito era radicalmente livre e, ora com outros, que ele era determinado por condições sociais. Nós descobríamos que era preciso procurar libertar tudo o que se esconde por trás do uso aparentemente simples do pronome "eu" (je). O sujeito: uma coisa complexa, frágil, que é tão difícil falar, e sem a qual não podemos falar.


- Lacan teve muitos adversários. Ele foi acusado de hermetismo e de "terrorismo intelectual". O que o senhor pensa sobre essas acusações?

- Penso que o hermetismo de Lacan é devido ao fato de ele querer que a leitura de seus textos não fosse simplesmente uma "tomada de consciência" de suas idéias. Ele queria que o leitor se descobrisse, ele próprio, como sujeito de desejo, através dessa leitura. Lacan queria que a obscuridade de seus Escritos fosse a própria complexidade do sujeito, e que o trabalho necessário para compreendê-lo fosse um trabalho a ser realizado sobre si mesmo. Quanto ao "terrorismo", observarei apenas uma coisa: Lacan não exercia nenhum poder institucional. Os que o escutavam queriam exatamente escutá-lo. Ele não aterrorisava senão aqueles que tinham medo. A influência que exercemos não pode ser nunca um poder que impomos.
  1. Esta entrevista foi realizada dois dias após a morte de Lacan (09/09/81). Ela está publicada no volume I da coleção Ditos & Escritos: Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. (org.) manual barros da Motta, Editora Forense Universitária.

2 comentários:

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